quarta-feira, 21 de março de 2012

Amazônia Perdida - 14º. dia

Duas da manhã. O índio que estava doente morre. Ninguém dorme. Quase toda a comunidade chora. O canto de lamento ecoa pela floresta. Homens e mulheres vagam pela taba. Queremos gravar o drama, mas nem tudo é permitido. Os yanomami acreditam que o morto foi vítima de um feitiço feito por um xamã de uma tribo inimiga. O espírito dele, segundo os índios, foi “puxado” pelo feiticeiro. Tinha uma forte dor de estômago. Não há médico, não há diagnóstico, não se sabe a causa científica da morte. Só a versão espiritual dos índios.


O corpo do índio é cremado na fogueira


Não podemos gravar o ritual de cremação. Mas posso assistir. A cantoria chorosa prossegue. Quatro índios pintados de vermelho disparam um tiro de escopeta, pegam o corpo envolto em uma rede de dormir e jogam numa fogueira. O corpo vai arder o dia inteiro. Suas cinzas serão guardadas em um pote por duas semanas. Tempo suficiente para a colheita de muita banana. As cinzas do morto serão misturadas ao mingau da fruta e todos vão comer.

Também vai ter carne de caça. Durante a festa funerária os índios estarão pintados de vermelho e vão cantar e dançar a para comemorar a despedida. Para encerrar, eles vão yopiar. Só então a alegria vai voltar à aldeia. O índio morreu no mesmo dia que se comemora a morte de Simon Bolívar, o libertador venerado na Venezuela. E no mesmo dia em que minha filha mais velha, Maíra, completa 32 anos. Ligo para ela duas vezes de um telefone satelital. Ela foi às compras para a festa. Deixo recado.


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