segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

África Selvagem

O BEBÊ ESTÁ MORTO

Nos despedimos da equipe que nos deu apoio no Zebra Park e partimos para uma viagem de 5 horas a bordo de uma Land Rover sem capota para observar melhor a natureza que teremos pela frente. Vamos ao Wildlife Park e temos certeza que encontraremos uma fauna sortida por onde passarmos.

Hiena, girafa, elefante, mongoose e javali - o Timão e o Pumba do filme "Rei Leão", búfalo, veado, babuíno são as espécies vivas que conseguimos filmar. Até aí só tivemos alegria, mas, encontramos a tristeza. Uma impala fêmea está morta sob uma árvore. Malemia, supõe que ela foi vìtima de ataque de um leopardo. 

Esse felino costuma arrastar suas presas para o alto das árvores para suas refeições, mas, segundo o nosso guia, algo ou alguém assustou o animal que abandonou o antílope no chão. Nos aproximamos tendo o cuidado de antes olhar ao redor e nos galhos da árvore porque certamente o leopardo está por perto e não quero servir de sobremesa. 

Quando pensei que já havia narrado tudo para a reportagem da televisão, Mathews me chama atenção para um detalhe que me deixa triste. A impala estava prenhe, prestes e ter seu filhote, e a pequena cabeça do feto estava para fora do corpo da mãe. Meu lamento logo se dissipou na reflexão de que aquela cena faz parte do mundo selvagem e que cada animal tem o seu papel, ou a sua sina, na cadeia alimentar.


LEÕES EM CLOSE

Nosso encontro com leões no dia anterior fui rápido e precisávamos de muito mais imagens das feras. Vimos abutres nos galhos de secos de algumas árvores. Eles seguem os felinos para ficar com as sobras da comida ou vice-versa, leões sabem que tem animal morto onde tem abutre. Uma pista importante e, não demora para encontrarmos o rei da selva e sua turma. Primeiro avistamos uma fêmea no leito seco de um rio. Preguiçosamente ela se esparramava pela areia. Às margens, mais duas fêmeas e um macho também curtiam sesta. Na sombra, os três  ignoravam nossa presença. Estávamos a bordo do carro e, teoricamente, em segurança. Mesmo assim nosso tom de voz era baixo e os movimentos eram lentos e calculados para não atrair a atenção das feras. Plano geral, aberto, close e big-close. Felipe e Ingrid "deitaram e rolaram". Tiverem tempo suficiente para encher o banco de imagens da TV Record.


A FAMÍLIA DO MATADOR
Depois de cinco horas de solavancos e vento na cara, a Land Rover estacionou em uma pequena vila de Mfuwe, onde vive a família de Mathews. Foi só alegria quando papai voltou para casa. Era visível de longe a arcada dentária estampada pelo sorriso das crianças. Depois de três semanas a mais de 120 quilômetros de distância, vieram esposa, filhos, pai, mãe e sobrinhos para recepcionar o nosso segurança. "Me dê dinheiro que estou precisando", brincou o velho pai em dialeto chinyanja. Todos sabem que quando o ranger retorna de uma temporada de trabalho traz o pagamento do patrão e as gorjetas no bolso. Mathews tem seis filhos e o dinheirinho é contado para alimentar tantas bocas. Penso que o pai dele, na verdade, não estava brincando quando pediu dinheiro. A pobreza campeia as vilas da tribo Kunda à qual aquela grande família pertence.

NOITE DE BICHO E TEMPESTADE
Nos despedimos do nosso ranger e dos seus parentes e seguimos para a etapa seguinte da nossa aventura. Mal desembarcamos nossas mochilas em novo acampamento, o Wildlife Camp, e saímos para um safari noturno. Filmamos apenas alguns animais. 

Quando estávamos à procura de um leopardo tivemos que encerrar o trabalho. Uma chuva torrencial interrompeu as gravações anunciando que o período de seca está chegando ao fim. A tempestade chegou com clarões de relâmpagos e estrondos de trovões. 

Era tão forte que tivemos que proteger os equipamentos e nos cobrir com capas impermeáveis que resolveram parcialmente o problema. Chegamos no acampamento em sopa quando os relógios marcavam 11 da noite. Havíamos acordado à seis da manhã. Foram 17 horas de trabalho apenas com curtos intervalos para as refeições. Dia longo e cansativo mas muito produtivo. Valeu!

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