PESCADOR, PROFISSÃO PERIGO
A primeira visão da manhã no acampamento é de um homem
varrendo as folhas que caíram das árvores. Noto que ele manca e logo desconfio que pode
ter sido atacado por algum animal. Pergunto ao chefe dele que confirma minha suspeita.
Mangomelo Phiri, 35 anos, casado e pai de três filhos, era pescador e quase perdeu a
direita e a vida durante uma pescaria no rio Luawanga.
O ex-pescador, atual jardineiro, aceita gravar entrevista na
margem do rio apesar de viver um grande drama até hoje, seis anos depois de incidente. Ele me
conta que estava com os amigos jogando a linha para pescar peixe-gato quando aconteceu o
ataque de um crocodilo gigante. O animal abocanhou sua perdeu e girou em torno do próprio
corpo tomando a vítima na água.
Foi um grande desespero. Porém, um dos amigos dele reagiu
com pauladas na cabeça do crocodilo que, por um curto momento afrouxou a dentada e
Mangomelo conseguiu retirar a perna. O crocodilo avançou novamente, o pescador desmaiou,
mas os amigos conseguiram salvá-lo. Mangomelo diz que quando acordou viu as luzes
fortes de uma UTI de hospital. O estado de saúde dele era grave e o tratamento foi longo. Ele
ficou cinco meses sem poder trabalhar e a esposa teve que trabalhar fora de casa para
pagar o as despesas de uma clínica.
JOHN NUNCA VOLTOU
Mangomelo não é a única vítima dos crocodilos. Ele diz que
conhece muitos outros pescadores que também sofreram ataques e que a maioria não teve a mesma
sorte que ele e morreram.
Lembra que um primo dele, John, saiu para pescar e não
voltou para casa. Ninguém sabe se ele foi vítima de crocodilo ou de hipopótamo. Admite que tem
medo de voltar ao rio e que hoje está aqui na barranca para atender a nossa reportagem,
lamenta que nunca mais mais voltará à antiga profissão de pescador mas conforma-se em
ter um emprego como jardineiro para sustentar a família.
ÁGUA BEMBA
Nos despedimos de Mangomelo e partimos para o aeroporto de
Mfuwe. Hora da partida para outras plagas. Decolamos às 12h30 quando o piloto Brad
informou que serão pouco mais de duas horas de voo a bordo de um Cessna. Super Skywagon de
seis lugares. Pousamos às 14h40 no aeroporto Kasompe, em Chingola.
Ao sobrevoar a cidade
notamos grandes empresas de mineração lá em baixo, inclusive a brasileira Vale do Rio
Doce que extraí cobre e exporta para a China. Também chamou a atenção uma usina nuclear em plena
área urbana. Percorrendo de carro as largas avenidas de Chingola me encantei com o
casario. Grandes mansões se espalham pela cidade o que me faz acreditar que é o
resultado da expressiva mineração, item número um da economia em Zâmbia.
Viajamos cerca de 2 horas até chegar ao local da próxima
pauta, Chimfunshi, um orfanato de chimpanzés. Chimfunshi em dialeto Bemba quer dizer
"lugar que tem muita água" e é dela que vamos beber. Porém, só amanhã, depois que o sol raiar.
Durante uma semana o trabalho foi intenso e com pouco tempo
para descansar. Desde que decolamos em São Paulo não tivemos folga. Ingrid e Felipe
vão direto para a cama e eu vou dormir mais tarde porque tenho muito o que escrever.
Que bela descrição, Gérson. Fico encantado com a tua sensibilidade para ver detalhes que não seriam percebidos pela maioria dos repórteres.
ResponderExcluirParabéns!