ELEFANTES NA TRILHA
Nossas caminhadas pelo parque têm que ser no início da manhã
e no final da tarde. De 11 horas até 4 da tarde o calor é insuportável até
mesmo para os animais que se abrigam nas sombras das árvores e em seus
esconderijos. A temperatura passa de 40 graus Celsius mas a sensação térmica é
muito maior. Parece até que vamos derreter. Mesmo de manhã e à tardezinha não é
fácil trabalhar nessa fornalha.
Nosso primeiro encontro foi com elefantes. Nossa equipe
gravava imagens de apoio de impalas, os irmãos dos veados brasileiros, quando
foi surpreendida pela passagem de uma manada de elefantes. Esses animais
parecem dóceis mas podem atacar se foram ameaçados. Sabemos que é preciso
manter uma distância segura. Ver elefante no circo é uma coisa. Encará-lo em
seu hábitat é outra. Por isso, com cautela, documentamos a passagem de uma
família inteira. Esperamos pacientemente que eles liberassem o caminho. Nosso
desejo maior era gravar imagens de leões. Será hoje o dia desse encontro
desafiador?
O ÉBANO E O FOGO
Seguimos, sempre em filha indiana, com o ranger à frente.
Ele também é mateiro e tem facilidade para identificar pegadas e dizer a
espécie do animal e há quanto ele passou por determinado lugar. Malemia, o
segundo da fila, também é bom no assunto e sempre tem uma informação útil.
As caminhadas são longas e cansativas e de vez em quando é
preciso parar para descansar. Hora de tomar chá ou café com biscoito. Um homem
que nos dá apoio tira da mochila uma chaleira, junta gravetos e folhas secas e
vai acender o fogo. Mas não temos fósforo nem isqueiro. E agora? Para os
africanos de Zâmbia isso não é problema. Uma vareta fina de madeira mole é
friccionada em um pedaço de ébano, madeira nobre e dura.
Rapidamente temos fogo
para o nosso lanche. Antes da partida temos o cuidado de ter certeza que não
ficou nenhuma brasa para evitar incêndio na savana.
No trabalho da manhã encontramos várias espécies de animais,
mas voltamos frustrados para o acampamento porque a grande expectativa era ver
leões. Quem sabe amanhã.
Vermelho carmim é a cor que domina
PÃO NO BURACO
No intervalo de descanso aproveitamos para gravar um pouco
mais. Desta vez para matar minha curiosidade. Quando chegamos nos ofereceram
pão fresco. Perguntei como isso era possível em local tão remoto e me
responderam que era feito aqui mesmo, em um "buraco". Entrevistei o
chefe de cozinha, Moffat Gondwe e ele me explicou que, depois de preparar a
massa, deixa a forma ao sol quente cerca de 30 minutos e depois leva ao buraco
em brasa, coberto por uma folha zinco por mais 30 minutos. O resultado é ótimo.
TRAVESSIA COM CROCODILOS
Às 4 da tarde é hora caminhar novamente. Nossa equipe tem
que atravessar a pé o rio Luangwa, moradia de crocodilos famintos e
traiçoeiros. Tiro as botas, minha calça cargueira se transforma em bermuda e o
ranger engatilha o seu rifle. Antes da travessia ele acena pedindo um minuto
para observar se há movimento suspeito ao redor. Mathews autoriza a travessia.
O rio está raso pelo castigo da seca o que facilita seguir rápido para a outra
margem para evitar o pior. Não senti medo mas pensei que na volta vai estar
escuro e a equipe vai ter que atravessar o Luangwa de volta ao acampamento.
Seja o que Deus quiser.
CARMIM COME ABELHA
Um babuíno divertido está em nossa trilha. Gravamos imagens
do engraçadinho mas temos que ir adiante logo para chegarmos antes do pôr do
sol onde estão centenas de ninhos de um pássaro muito bonito, o "Carmim
Comedor de Abelha do Sul" que tem esse nome por causa do vermelho carmim
que é a cor dominante, porque come abelha e porque vem do sul do continente
africano. Além do vermelho carmim, o azul turquês e a cor laranja dão um colorido
especial à ave.
O PÁSSARO IMIGRANTE
O curioso é que a fêmea põe os ovos em um ninho encravado no
barranco do rio Luangwa que nessa época tem seu nível muito baixo por causa da
seca. Quando chegarem as chuvas torrenciais o rio vai subir e os ninhos serão
inundados, mas os filhotes já estarão aptos para voar. Então, em bando, os
belos pássaros vão imigrar para a Botswana e para África do Sul. Demos sorte,
chegamos no início da temporada das chuvas e pudemos apreciar tamanha beleza. E
mais, encerramos as atividades do dia contemplando um colorido único no céu.
Coisas da Mama África.
Os ninhos são no barranco
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