O BEBÊ ESTÁ MORTO
Nos despedimos da equipe que nos deu apoio no Zebra Park e
partimos para uma viagem de 5 horas a bordo de uma Land Rover sem capota para
observar melhor a natureza que teremos pela frente. Vamos ao Wildlife Park e
temos certeza que encontraremos uma fauna sortida por onde passarmos.
Hiena, girafa, elefante, mongoose e javali - o Timão e o
Pumba do filme "Rei Leão", búfalo, veado, babuíno são as espécies
vivas que conseguimos filmar. Até aí só tivemos alegria, mas, encontramos a
tristeza. Uma impala fêmea está morta sob uma árvore. Malemia, supõe que ela
foi vìtima de ataque de um leopardo.
Esse felino costuma arrastar suas presas
para o alto das árvores para suas refeições, mas, segundo o nosso guia, algo ou
alguém assustou o animal que abandonou o antílope no chão. Nos aproximamos
tendo o cuidado de antes olhar ao redor e nos galhos da árvore porque
certamente o leopardo está por perto e não quero servir de sobremesa.
Quando
pensei que já havia narrado tudo para a reportagem da televisão, Mathews me
chama atenção para um detalhe que me deixa triste. A impala estava prenhe,
prestes e ter seu filhote, e a pequena cabeça do feto estava para fora do corpo
da mãe. Meu lamento logo se dissipou na reflexão de que aquela cena faz parte
do mundo selvagem e que cada animal tem o seu papel, ou a sua sina, na cadeia
alimentar.
LEÕES EM CLOSE
Nosso encontro com leões no dia anterior fui rápido e
precisávamos de muito mais imagens das feras. Vimos abutres nos galhos de secos
de algumas árvores. Eles seguem os felinos para ficar com as sobras da comida
ou vice-versa, leões sabem que tem animal morto onde tem abutre. Uma pista
importante e, não demora para encontrarmos o rei da selva e sua turma. Primeiro
avistamos uma fêmea no leito seco de um rio. Preguiçosamente ela se esparramava
pela areia. Às margens, mais duas fêmeas e um macho também curtiam sesta. Na
sombra, os três ignoravam nossa
presença. Estávamos a bordo do carro e, teoricamente, em segurança. Mesmo assim
nosso tom de voz era baixo e os movimentos eram lentos e calculados para não
atrair a atenção das feras. Plano geral, aberto, close e big-close. Felipe e
Ingrid "deitaram e rolaram". Tiverem tempo suficiente para encher o
banco de imagens da TV Record.
A FAMÍLIA DO MATADOR
Depois de cinco horas de solavancos e vento na cara, a Land
Rover estacionou em uma pequena vila de Mfuwe, onde vive a família de Mathews.
Foi só alegria quando papai voltou para casa. Era visível de longe a arcada
dentária estampada pelo sorriso das crianças. Depois de três semanas a mais de 120
quilômetros de distância, vieram esposa, filhos, pai, mãe e sobrinhos para
recepcionar o nosso segurança. "Me dê dinheiro que estou precisando",
brincou o velho pai em dialeto chinyanja. Todos sabem que quando o ranger
retorna de uma temporada de trabalho traz o pagamento do patrão e as gorjetas
no bolso. Mathews tem seis filhos e o dinheirinho é contado para alimentar
tantas bocas. Penso que o pai dele, na verdade, não estava brincando quando
pediu dinheiro. A pobreza campeia as vilas da tribo Kunda à qual aquela grande
família pertence.
NOITE DE BICHO E TEMPESTADE
Nos despedimos do nosso ranger e dos seus parentes e
seguimos para a etapa seguinte da nossa aventura. Mal desembarcamos nossas
mochilas em novo acampamento, o Wildlife Camp, e saímos para um safari noturno.
Filmamos apenas alguns animais.
Quando estávamos à procura de um leopardo
tivemos que encerrar o trabalho. Uma chuva torrencial interrompeu as gravações
anunciando que o período de seca está chegando ao fim. A tempestade chegou com
clarões de relâmpagos e estrondos de trovões.
Era tão forte que tivemos que
proteger os equipamentos e nos cobrir com capas impermeáveis que resolveram
parcialmente o problema. Chegamos no acampamento em sopa quando os relógios
marcavam 11 da noite. Havíamos acordado à seis da manhã. Foram 17 horas de
trabalho apenas com curtos intervalos para as refeições. Dia longo e cansativo
mas muito produtivo. Valeu!
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