TENTATIVAS DE FUGA
Hoje vamos conhecer três personagens, dois humanos, os
tratadores Dominic Chinyama e Patrick Chambatu e Zabu, o macho alfa dos
chimpanzés. Dominic está com a mão esquerda ferida e inchada e tem cicatrizes
no braço direito.
É comum o tratador vacilar no manejo com os animais e levar
mordidas. Por causa da dor dos ferimentos ele estaria de folga, mas gentilmente
foi ao trabalho apara atender a nossa reportagem. Ele trabalha há 18 anos no
orfanato e diz que não troca de atividade por nada desse mundo porque se apegou
aos chimpanzés e ama o que faz.
Pergunto o que viu de mais interessante em sua
rotina e afirma que a inteligência dos primatas é o que mais o surpreende e se
recorda de três momentos. Lembra-se de um chimpanzé construindo uma escada com
pedaços de madeiras para pular a cerca elétrica, outro cavando para escapar por
um buraco sob a cerca e outro outro que lutou com violência para defender um
chimpanzé mais fraco de um ataque. Interrompe sua lembrança acrescentando que
são muitos os momentos ao longo de 18 anos e que teria que ficar um bom tempo
narrando o que viu.
Quero saber se Dominic já presenciou algum parto. Ele diz
que quando vão parir as fêmeas seguem para a mata à noite e que é muito difícil
flagrar esse momento, mas que teve a sorte de acompanhar o nascimento de um
chimpanzé.
O SORRISO DO TRATADOR
Patrick é o tratador mais antigo do orfanato. Está aqui
desde a inauguração em 1983 quando chegou Pal, o primeiro chimpanzé acolhido. O
sorriso de Patrick é largo.
O tempo todo ele revela a grande e branca arcada
dentária. É felicidade pura estampada no rosto negro. Para ele não existe
momento difícil no trabalho. Golias,
Renata, Regina....
À medida que atira comida para os chimpanzés ele
pronuncia o nome de cada um e garante que sabe o de todos os 123 do orfanato.
Pudera, são 23 anos convivendo com todos eles.
A chimpanzé Rita tem um bebê agarrado a ela o tempo todo.
Patrick conta que ela teve gêmeos mas um morreu. Na hora de distribuir alimento
ele dá atenção especial a ela e demostra todo o seu carinho. Patrick quer
agradar os visitantes brasileiros mas não se dá bem.
Fala que o Brasil tem o
melhor futebol do mundo mas erra ao destacar que o nosso maior craque foi
Maradona. Mostro meu descontentamento e corrijo afirmando que foi Pelé.
Ele
reconhece a falha e pede mil desculpas. "Sorry, sorry, Sorry". Assim
como é costume dele, também abro um largo sorriso e com um aperto de mão me
despeço da pessoa mais simpática que encontramos até agora em Zâmbia.
ZABU RESPEITA MULHER
Innocent Mulenga, o especialista em primatas, está com
malária mas, mesmo assim, atende ao nosso pedido de entrevista para a
televisão. São informações úteis para depois eu narrar as imagens que Felipe e
Ingrid vão gravar. Juntos, observamos o comportamento dos chimpanzés e me
impressiona como são parecidos com humanos nos momentos de carinho, violência,
solidariedade, egoísmo e hierarquia.
Pará ilustrar o agir do amimais, Innocent conta a história
de Zabu, o maior e mais forte chimpanzé do grupo e grande líder. O macho alfa
tem 21 anos de idade e pesa 72 quilos. Nenhum chimpanzé ousa desafia-lo. Sua
força e capacidade de liderança são incontestáveis para o bando. Zabu protege
as fêmeas e os velhos. Se algum jovem tenta comer primeiro, o líder parte para
cima aos murros e o guloso sai em disparada e aos gritos.
Innocent diz que antes o líder era Pal mas que Zabu se impôs
depois de várias brigas violentas. Pal não era bom para as fêmeas. Além de não
defendê-las, como deve agir um cavalheiro, elas ainda eram agredidas por ele.
Zabu não gostava do que via, resolveu tomar controle da situação e declarou
guerra a Pal que ergueu bandeira branca quando sentiu na carne que não poderia
vencer a batalha. Durante o conflito as fêmeas apoiaram Zabu, o bom, e Pal teve
que ser deslocado para outro bando.
Zabu, o líder justo, reina absoluto.