terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

África Selvagem


O GALO DA MADRUGADA
Hoje vamos voar para Livingstone, sul de Zâmbia, às 10 horas da manhã e estamos a apenas uma hora e meia do aeroporto de Chingola. Finalmente um dia que poderíamos dormir até mais tarde. Poderíamos! 

Três e meia da madrugada um galo maldito me acorda com seu cantar desafinado. Ele está do lado de fora do rancho onde me hospedo mas o canto é tão estridente que tenho a sensação que ele está ao lado da cama. Pior, noto que não se trata de apenas um mas de vários galos. Aquela sinfonia louca me atormenta, tento dormir novamente e até consigo alguns momentos de cochilo. 

Me levanto com o dia clareando e encontro Felipe e Ingrid que estão praguejando pelo mesmo motivo. Não fui a única vítima do galo da madrugada.

PÔR DO SOL NO ZAMBEZI
Chegamos às 10 horas em ponto no aeroporto de Chingola e o piloto Brad já estava à nossa espera. Acomodamos a bagagem e decolamos. Duas horas e quarenta minutos depois pousamos em Livingstone, fronteira de Zâmbia com o Zimbábue. Em uma Land Rover de cabine aberta,  seguimos para o Maramba River Lodge. Hoje não haveria tempo para safari e saímos, à bordo de um grande barco, apenas para apreciar a paisagem fascinante ao pôr do sol no rio Zambezi.


A ORQUESTRA E A VELHA TARADA
Quando o alerta do iPad soou às 5h30 eu já estava acordado e ouvia em silêncio uma sinfonia de pássaros. São várias espécies, cada uma com seu canto único. Juntos, os passarinhos formam uma orquestra afinada para saudar o despertar sol.

Abri as cortinas do meu chalé e deixei transparecer meu corpo semi-nu quando fui surpreendido por uma senhora com aparência de mais de 60 anos mirando em minha direção um potente binóculo. Pensei se tratar de uma velha tarada e logo notei que um senhor, provavelmente o marido dela, estava por perto e também portava um binóculo. 

Foi quando minha ficha caiu. Eram observadores de pássaros, pessoas que se levantam antes do sol raiar porque é à primeira luz do dia que as aves promovem uma verdadeira farra musical e fica mais fácil observa-las. O casal sexagenário estava ali para apreciar o concerto daquela orquestra. Em pensamento me desculpei com a velhinha e conclui que não era possível uma mulher vouyer se interessar por este magrelo descabelado e sonolento.

FUMAÇA DE TROVÃO
Stan, um morador local, veio buscar nossa equipe à 6h10 da manhã. Seguimos para Vitória Falls, as cataratas que ficam na divisa de Zâmbia com o Zimbábue. Foi decepcionante porque estamos no fim da estação da seca e as águas do rio Zambezi não abastecem as cataratas o suficiente para o grande espetáculo que acontece durante a cheia.

As cachoeiras têm o nome de Vitória em homenagem à rainha da Inglaterra e foram descobertas pelo explorador britânico David Livingstone em 1875. O homem certamente ficou extasiado com o que o viu. O grande volume de água, de 5 milhões e 200 mil litros cúbicos por segundo, causa estrondo ao despencar por paredões que chegam a 162 metros de altura e 1070 metros de extensão. O spray provocado pela queda atinge um quilômetro de altura e pode ser visto a longa distância, tanto que os nativos batizaram a cachoeira em dialeto lozi, a língua local, de mozi-o-tunya, que quer dizer "fumaça que troveja", nome escolhido por causa do barulho de tempestade que ecoa ao longe.

De 2007 a 2010 a Vitória Falls foi considerada uma das sete maravilhas naturais do mundo na lista da New Open Word Foundation, dentre 261 localidades em 222 países. Mas perdeu o posto para as nossas cataratas do Iguaçu, no Paraná, que, francamente, são muito mais bonitas.
As seis atuais maravilhas naturais são: Amazônia do Brasil e mais oito países, Cataratas do Iguaçu (Brasil e Argentina), Baia de Halong com 1969 ilhas no Vietnã, ilha vulcânica Jeju Island na Coréia do Sul, Parque Nacional de Komodo na Indonésia, Parque Nacional do rio subterrâneo de Porto Princesa nas Filipinas, Montanha da Mesa da Cidade do Cabo na África do Sul.



TORCIDA PELO LEÃO
Na minha infância os filmes em preto e branco de Tarzan, com Johnny Weissmuller, povoavam a minha mente sobre os desafios da selva e o medo de leões invadia os meus sonhos. Mas Tarzan enfrentava a fera apenas com uma faca e vencia toda batalha. Leão em fuga ou leão morto era o resultado da luta e Jane, a namorada do herói das selvas, era salva do perigo. Torcia por Tarzan na briga com o leão. Hoje, com certeza, torceria pelo leão. Eles são as vítimas do homem mau.

O BICHO PEGA
Viemos a Livingstone para um encontro com leões. Lion Encounter é o nome da organização que executa um projeto para reproduzir leões e soltá-los na natureza. Um trabalho que envolve 48 funcionários e 15 voluntários que vêm de diversos países para a Zâmbia selvagem. Encontramos belgas, britânicos, alemães, suíços , suecos e norte-americanos. Eles ficam temporadas de duas a quatro semanas trabalhando duro. Limpam cocô de leão em recinto fechado, carregam carniça para alimentar os felinos e fazem longas caminhadas sob o sol de rachar, além de outras dezenas de tarefas. 

Dormem em alojamentos sem ar condicionado e convivem com os insetos, inclusive o mosquito transmissor da malária. Um voluntário disse que não dá para suportar o calor e tem que abrir a janela e é quando os insetos invadem o ambiente. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Além de dar duro, os voluntários pagam as despesas com hospedagem e alimentação e ainda têm de deixar uma doação em dinheiro para a organização Lion Encounter.



AMOR PELO GATO
Jacqui Gnazzo, 27 anos, é herdeira de uma fazenda na Pensilvânia (EUA) onde cria cavalos. Vai pagar nove mil reais para servir como voluntária durante três semanas. Serão seis mil para a Lion Encounter e mais de três mil em passagem aérea. A moça diz que realiza um sonho. A idéia de se encontrar com leões surgiu cinco anos atrás. "É o gato que mais gosto", justifica o investimento.

O advogado sueco Edward Lundqvisti demorou 36 anos de sua vida para se encontrar com leões e está feliz  por viver essa oportunidade. Gastou mil dólares a mais que Jacqui por vai ficar quatro semanas. Pergunto se vale se sacrificar, como por exemplo suportar mau cheiro de carniça. Ele garante que, para somar experiência de vida, vale qualquer sacrifício e que não trocaria as três semanas com leões por uma bela praia no Caribe.

PAIS E FILHOS
Estamos em território que tem rei. Mas não é um velho soberano que recebe nossa equipe de reportagem. Três crianças preguiçosas nos recebem à sombra de uma árvore. Um macho de nove meses e duas fêmeas de seis meses e meio. Lindos os leões. São novos mas já são fortes e têm o instinto do predador.

Não se pode vacilar na presença dos pequenos felinos.

Cephas Maingaila, cuidador de leões, outro funcionário e quatro voluntárias formam uma equipe para caminhar com os bichos. Temos que andar em grupo. Quem se desgarra vira presa. Os bebês foram separados dos pais, os cuidadores fazem papel de pai e as voluntárias de mãe. Estimulam os pequenos a desenvolver os costumes de leão em vida selvagem e utilizar e a aflorar o instinto de caçadores. É a primeira etapa de um treinamento que dura até cinco anos, quando estarão prontos para serem soltos em um parque nacional.




PREGUIÇA AGUDA
O sistema digestivo do leão é lento o que o torna preguiçoso. O animal dorme de 18 a 20 horas por dia. Procura a sombra das árvores porque a temperatura passa de 40 graus Celsius. Leão tem pelagem grossa e por isso transpira pela boca e, principalmente, pelas patas. As marcas pretas na ponta e rabo e atrás das orelhas servem para comunicação em grupo na hora da caça. O felino nasce com olhos verdes que ficam cor de mel nas primeiras semanas de vida.
A caminhada de duas horas com leões rendem boas informações, mas nossa equipe ainda vai aprendem muito mais em novos encontros com as feras.



ALGO PODRE NO AR
Ao final da tarde notamos movimentação no local onde é separada a comida dos leões. De uma caminhonete Hi Lux funcionários e voluntários descarregam quatro burros que acabaram de ser abatidos. Os animais são cortados em pedaços grandes e guardados fora da geladeira. Amanhã vamos entender o porquê.



VIDA BREVE
Nossas atividades em Livingstone acontecem de manhã e no final da tarde. Ninguém suporta o calor do meio do dia, nem mesmo os animais. Começamos o dia com mais uma longa caminhada com leões para garantir boas imagens e coletar novas informações.

Os leões se mordem, se atracam e rolam no chão. A brincadeira é um treinamento que vai servir para o resto da curta vida deles na disputa por território de caça e na ação para abater presas.
Se comparada com a expectativa de vida dos humanos, leão vive pouco. Na natureza os machos chegam a 15 anos e a 25 em cativeiro. As fêmeas atingem 20 anos na natureza e 25 em cativeiro.

RICOS, COVARDES E CRUÉIS
Leões vivem menos em ambiente selvagem porque cada vez mais perdem áreas de caça por causa do crescimento das vilas, do desmatamento  e da ação dos caçadores locais que matam para comer e dos milionários que chegam na África de todos os continentes, principalmente da Europa e dos Estados Unidos para caçar leão por puro divertimento. 

Os caçadores ricos chegam a pagar até 250 mil dólares por um safari, cerca de meio milhão de reais. Recentemente um escândalo envolvendo o rei Juan Carlos abalou a Espanha. Ele participava de um safari para caçar leões, caiu do cavalo durante a caçada, fraturou um fêmur e teve que voltar correndo para o seu médico europeu. A  notícia vazou na imprensa. O rei esbanjava dinheiro enquanto o povo do seu país era castigado pela crise econômica e teve que se explicar. Pediu desculpas aos espanhóis porque estava torrando dinheiro público, mas esqueceu-se de pedir desculpas ao resto do mundo por assassinar leões na África.

A caçada dos ricaços pode ser selvagem, na natureza, onde os leões têm alguma chance de fuga ou defesa. Mas existe safari em fazenda fechada com cerca elétrica. Os leões são acuados para garantir o tiro certo do caçador. Uma covardia.

PERTO DO FIM
Entidades de proteção animal africanas estimam que nos últimos 20 anos a população de leões foi reduzida em cerca de 80 por cento.  A organização Lion Encounter calcula que hoje restam apenas 20 mil animais em continente africano. Vinte anos atrás eram 250 mil. Especialistas em vida animal afirmam que a maior ameaça é a falta de conscientização das pessoas para o risco de extinção dos leões e falta de políticas e recursos financeiros para reprodução em cativeiro e soltura em parques nacionais. O alerta vermelho já está ligado.


COMIDA NOJENTA
É fim de tarde, um mau cheiro de revirar o estômago se espalha pelo ar e me lembro dos burros abatidos no dia anterior e que não foram guardados em geladeira. O fedor da carniça e o calor insuportável provocam um mal estar de causar desespero, mas, temos gravar o almoço das feras. Leão come carne fresca mas também aprecia carne fedida. Por instinto, sabem que onde voam abutres tem animal morto.

Dois funcionários e duas voluntárias têm a ingrata tarefa de carregar a carne. O sangue do burro escorre pelo assoalho da carroceria da caminhonete. A careta de uma voluntária revela que o esforço é grande para suportar missão tão nojenta.

Os leões que vão ganhar a comida estão confirmados. Eles ficam assim, presos por pelo menos dois anos, até atingirem a maturidade sexual para reprodução e idade para começar as caçadas. Um macho e seis fêmeas se banqueteiam com carne burro. Demoram cerca de 30 minutos para devorar os nacos gigantes da carne. A língua áspera como uma lixa é instrumento para desgrudar a carne dos ossos.




CEDO PARA O SEXO
Nesse recinto não tem namoro. Ainda não chegou o momento de o macho cobrir as fêmeas. Eles vão estar maduros para o sexo só depois de dois anos e meio, mas só estarão aptos para cruzar e reproduzir com cinco anos de idade. As fêmeas são mais precoces e estarão prontas para gerar filhotes aos quatro anos de vida. A gestação dura de 100 a 110 dias. Os leões nascem pequenos, mas crescem muito e chegam a pesar até 200 quilos.

MÃE INDIFERENTE
A administradora da fazenda de leões, a britânica Cara Watts, é especialista em comportamento e saúde animal. Ela conta que a leoa é boa e má mãe ao mesmo tempo. Boa porque protege os pequenos enquanto são dependentes e má porque na hora da fome ela se alimenta primeiro e, se sobrar dá de comer aos filhotes. Mas a maior maldade é ignorar quando o filho morre ou é retirado do bando. Ao contrário dos chimpanzés, cujas emoções afloram como nos humanos, as leoas não demonstram nenhum sentimento.



TREINAR PARA COMER
Hoje temos que suportar novamente o cheiro de carniça. Vamos conhecer leões adultos, um macho e seis fêmeas, que estão soltos em uma área cercada de 700 acres (2.819.900 m²). Um deles utiliza colar cervical com transmissor de rádio para facilitar o monitoramento do grupo. Com um receptor, a bióloga inglesa Rae Kokes indica o local exato onde as feras descansam. 

Especialista em conservação de vida animal, a pesquisadora analisa pequenos detalhes do comportamento leonino. Todo gesto é anotado como lamber a pata, trocar de sombra, rugir, movimentar orelhas para comunicação, se levantar e revelar sentido aguçado ao notar movimentação de outros animais. É o parecer da bióloga que vai definir o momento certo para que os leões sejam levados a um parque nacional e possam viver como manda a natureza.

FOME DE LEÃO
Onde estamos não é seguro descer do carro. Aqui os leões já praticam a caça e não queremos virar almoço. Outro veículo, uma caminhonete, leva a carcaça de um burro dividida em sete pedaços e deixa longe de onde os animais estão. Trata-se de uma medida estratégica para não dar carne na boca, sim estimular a procura pelo alimento. Não demora muito para a leoa líder farejar  e correr em direção ao banquete. Os demais a seguem e noto que o macho fica para trás. 

Ele é mais pesado e mais lento, mas não vai passar fome porque tem comida para todos. Cada um com o seu naco, os leões devoram rapidamente a comida e finalmente, ao vivo, compreendo o ditado popular "fome de leão" que define quando alguém come com apetite voraz.
Com a pesquisadora, percorremos os quatro cantos da área e encontramos impalas e outros antílopes que foram colocados ali para que os leões pratiquem a caça. Há períodos em que deixam eles sem carne de burro de propósito para que os felinos aprendam a se virar. "A leoa líder do grupo já caçou", orgulha-se Rae.


A GRANDE GUERRA
Convidamos a bióloga Rae para assistir e comentar as imagens de um vídeo que já foi assistido por mais de 80 milhões pessoas nas redes sociais e exibido em emissoras de televisão do mundo todo, inclusive nos canais especializados em vida selvagem Animal Planet e National Geographic.

David Budzinski é um turista de sorte, estava no lugar certo e na hora exata, às margens de um rio no Parque de Krüger, África do Sul. Ele tinha nas mãos uma câmera de vídeo amador e registrou durante pouco mais de 8 minutos imagens raras envolvendo uma guerra entre leões, crocodilo e búfalos. 

"A Batalha de Krüger" é o título do vídeo no YouTube.

Exemplo espetacular, gravado em plano seqüência, de como é a luta pela comida e pela sobrevivência na África selvagem.


O INCRÍVEL RESGATE
Uma manada de búfalos se aproxima do rio sem perceber que um grupo de leões está por perto. A fêmea caçadora percebe a aproximação, movimenta as orelhas para comandar a ação da equipe, espera o momento certo e parte em disparada para o ataque. Os búfalos partem em fuga mas um filhote se desgarra da manada e vira alvo. A leoa ataca, carrega a presa para o rio e logo recebe a companhia dos demais leões que puseram a manada para correr.

O pequeno búfalo está ferido e, até aqui, tudo indica que poderá morrer um poucos minutos. Os leões resolvem arrastar o búfalo para a margem mas têm uma surpresa, um crocodilo tenta roubar a comida e ataca. Há um segundo ataque e o crocodilo tenta levar o pequeno búfalo para dentro da água onde ele tem mais habilidade e força. Leões puxam de um lado e o crocodilo de outro. Pobre búfalo!

Quando parecia que os leões haviam vencido a batalha de Krüger, acontece uma grande surpresa, a manada de búfalos volta e cerca o grupo de leões enquanto o bebê búfalo sobre nas garras de uma leoa. O búfalo líder ataca e chifra uma leoa que parte em fuga e é perseguida até sumir na savana. Um segundo ataque e uma leoa voa com a potente chifrada. Ferida, também é perseguida e desaparece. Mesmo acuada pela manada, a leoa que domina o pequeno búfalo não abandona a sua presa até que um búfalo a agride e o filhote é resgatado ainda com vida. Investida final dos búfalos põe todos os leões, alguns feridos, para correr.





FLAGRANTE RATO

A bióloga Rae afirmou que aquele momento foi único. Ela analisou os movimentos, principalmente de orelhas, que definem a estratégia de ataque dos leões e finalizou: "O turista conseguiu documentar um fato raro no mundo selvagem envolvendo três espécies diferentes. Foi sorte grande".
Não há como não se impressionar com a batalha de Krüger. Qualquer um apostaria na vitória dos leões. Poucos contariam com um crocodilo na disputa. E certamente ninguém poderia acreditar que os búfalos voltariam para resgatar o filhote. Só mesmo nesta desafiadora África selvagem.


MAMA FASCINANTE
De Livingstone para São Paulo com conexão em Johanessburg. 



Estamos voltando e vamos chegar em casa na madrugada de 12 de novembro de 2012, segunda-feira. Não há viagem fácil, todas são cansativas. Mas o prazer do trabalho realizado nos faz superar as dificuldades e as dores do corpo. 



Em Zâmbia conhecemos um pouco mais da cultura e dos costumes de um povo alegre e receptivo. 



Enfrentamos o desafio de fazer safari a pé em território dominado por bichos perigosos. 



Convivemos com hipopótamos, zebras, crocodilos, elefantes e mais de uma dezena de outras espécies.




Invadimos, mas respeitamos o mundo selvagem, ao contrário do que fazem os caçadores covardes e cruéis que pagam até meio milhão de reais para caçar leões.



Estive várias vezes neste continente e sei que posso voltar muitas outras e sempre algo novo vai me surpreender. A Mama África sempre fascina.








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